sexta-feira, 13 de março de 2020
terça-feira, 10 de março de 2020
74 anos de David Gilmour
Batizado de David Jon Gilmour, o famoso guitarrista do Pink Floyd David
Gilmour, nascia em 6 de março de 1946 em Cambridge, Inglaterra. Filho de
Douglas, um professor de zoologia da Universidade de Cambridge, e de
Sylvia, que também era professora, mas depois seguiu a carreira de
editora da BBC, David Gilmour sempre foi incentivado a dar
prosseguimento ao seu interesse por música.
Aos 8 anos, ganhou seu
primeiro single, o clássico Rock Around The Clock do Bill Haley e "seus
cometas". Depois veio Elvis com Heartbreak Hotel e The Everly Brothers
com Bye Bye Love. Pronto, o garoto estava bem encaminhado e com
considerável interesse por guitarra despertado. Tanto que pegou uma
guitarra emprestada de um vizinho e nunca mais a devolveu. Com seu
trajeto no mundo da música prestes a se iniciar, faltava um daqueles
acasos da vida que todos nós tiramos proveito ao final.
Em 1957, ele frequentava a The Perse School que ficava em Hills Road.
Ele odiava aquele local e sempre pensava em sair de lá. Foi nessa época
que o destino fez com que conhecesse dois rapazes que frequentavam a
Cambridge High School for Boys. Esses rapazes eram Syd Barret e Roger
Waters. Pronto, o universo já conspirava a favor de todos. Conspirava
com tanta vontade que, cinco anos depois, David e Syd passaram a ser
colegas na Cambridge College of Arts and Technology, época em que
praticavam guitarras juntos com frequência. Era agora questão de
paciência.
Ainda em 1962, David entrou para o Jokers Wild, uma banda de rock e
blues. Eles chegaram a gravar um pequeno álbum no Regent Sound Studio,
mas apenas 50 cópias foram feitas. Três anos depois, na companhia de
outros músicos e do amigo Syd Barret, David Gilmour fez uma viagem, que
poderia ser chamada de turnê, onde visitaram a Espanha e França tocando
música dos Beatles.
Em 1967, ele faz uma nova turnê pela França
com o trio Jokers Wild que agora se chama Flowers e logo depois viraria
Bullitt. A turnê é um fiasco. Poucos locais aceitam contratá-los para
tocar e quase todos pagam mal. Não bastante, tiveram o equipamento
roubado. E dessa que seria a pior parte, foi como o destino conspirou
novamente. Precisando de novos equipamentos, eles voltam para a
Inglaterra. Nesse meio tempo, David Gilmour teve a oportunidade de
visitar o amigo Syd Barret na gravação do single See Emily Play já na
banda Pink Floyd. Nesse encontro, David se aproxima dos outros membros
da sua futura banda, mas também fica bastante impressionado com o estado
do Syd que estava com sua doença mental avançada a ponto de sequer
reconhecê-lo. Naquele ano, a banda Bullit era encerrada e David Gilmour
estava livre para o destino finalizar seus planos.
Em dezembro de 67, o Pink Floyd convida oficialmente David Gilmour
para ser seu quinto integrante. A proposta basicamente seria para ele
ser um substituto do Syd que não sairia oficialmente da banda. Syd
participaria ainda da criação das faixas e Gilmour meio que seria um
dublê de Syd nas apresentações. Por quase meio ano o Pink Floyd teve uma
composição de cinco membros: Barret, Wright, Waters, Gilmour e Manson.
Inclusive, conseguiram lançar um álbum com essa formação, A Saucerful of
Secrets. Nele, Barret tem uma música sua gravada, Jugband Blues, onde
inclusive canta. Antes mesmo do lançamento do álbum, na segunda metade
de 68, os membros do Pink Floyd entenderam que Syd Barret não tinha mais
condições de atuar no palco, muito menos nos bastidores e o afastaram
de vez. Ainda sobre o álbum, Gilmour não escreveu para esse álbum, mas
participou nos vocais de Let There Be More Light, Corporal Clegg e a
faixa título do álbum que possui quatro partes. O álbum teve uma
repercussão razoável, mas nada suficiente para colocar a banda no radar
do mundo da música.
O ano de 69 já foi diferente para Gilmour e os
membros do Pink Floyd. Lançaram dois discos. O primeiro no meio do ano,
era a trilha sonora do filme More. Com praticamente quase todas as
faixas escritas por Roger Waters, Gilmour participou efetivamente da
criação das faixas instrumentais e da faixa Ibiza Bar, onde ele canta
também. O filme conta a história de uma pessoa que vive de caronas que
abusa de drogas e frequenta muitas festas. A proposta do diretor era que
as músicas não tivessem o papel tradicional de uma trilha sonora, mas
que fossem o fundo das cenas. Como se as músicas estivessem sendo
tocadas nas festas ou cenas mesmo. Aliás, o diretor acreditava que a
banda, caso não alavancasse na carreira tradicional, tinha potencial
para o mercado de trilhas sonoras.
O
segundo lançamento daquele ano foi o Ummagumma, um álbum duplo com o
disco 1 tendo faixas ao vivo de registros feitos no final de abril e
início de maio de 69. O disco 2 tinha músicas de estúdio inéditas, sendo
duas do Waters e mais três, uma de cada membro. Gilmour escreveu The
Narrow Way (parte 1 - 3). Ele mesmo diz que ficou apreensivo em compor
algo 100% seu pela primeira vez na banda. Tanto que meio que requentou
uma música que já tinha tocado em 68, colocou umas partes novas, deu um
tapa e estava pronta. Ele até pediu para o Waters ajudar com letras, mas
o colega negou a parceria. Muitas pessoas não entendem o sentido do
nome desse álbum. Ummagumma é uma gíria originária de Cambridge para
fazer sexo. É algo equivalente ao nosso "dar umazinha", "bimbada" etc.
Anos depois, já na década de 90, mesmo com a boa receptividade da
crítica na época do lançamento, os membros assumiram que não gostaram do
resultado do álbum. Waters definiu como um desastre e Gilmour como
horrível.
No de 1970, Gilmour e seus parceiro de Pink Floyd lançam
o álbum Atom Heart Mother, um trabalho que possui características muito
próximas ao Ummagumma. A semelhança reside no fato de Atom Heart
Mother, apesar de ser um álbum simples, tem um lado A de colaboração
coletiva da banda e, no lado B, músicas individuais de cada membro. No
lado A, está a faixa título, de quase 24 minutos de duração. No lado B,
quatro faixas, uma do Waters, uma do Wright, uma do Gilmour e uma quarta
coletiva que na realidade é uma faixa estilo suíte que tem muito mais
trabalho de Manson do que os demais. Anos depois, assim como Ummagumma,
Waters e Gilmour declaram que o álbum é uma grande porcaria, apesar de
ter alcançado índices razoáveis no mercado. Atom Heart Mother foi
responsável por um novo padrão dos álbuns do Pink Floyd que passariam a
ter uma capa sem o nome da banda, nem foto dos integrantes.
No ano
seguinte, foi a vez do álbum Medle que, por muitos, é considerado o
pior álbum da banda. A composição do projeto se assemelha ao Atom Heart
Mother. Em um dos lados tem-se uma faixa única enorme chamada Echoes que
só não é maior que a Atom Heart Mother e a versão completa de Shine on
Your Crazy Diamond e, no outro lado, faixas mais curtas, só que dessa
vez com colaboração coletiva. Gilmour participa do processo criativo e
canta e quase todas, exceto na faixa San Tropez que é 100% do Waters.
Talvez por conta de maior participação no álbum que a crítica começou a
dar mais atenção a ele, afirmando que a presença de Gilmour cada vez
mais, tanto no vocal, quanto na guitarra, ganhava destaque na banda. O
álbum, independentemente da qualidade, é um marco na transição do Pink
Floyd sob influência de ideias de Syd Barret para o Pink Floyd que é
hoje conhecido. Um destaque deste álbum é a faixa inicial One of Theses
Days que é uma das minhas favoritas dentre as não-comerciais.
Em
1972, a banda lança o álbum Osbcured by Clouds, novamente um trabalho de
trilha sonora, desta vez para o filme francês La Vallée que foi lançado
no mesmo ano. Lembrando que além da trilha para o filme More, a banda
sem Gilmour já tinha lançado outra trilha para o filme The Committee em
68. Gilmour tem mais uma vez uma participação presente na criação das
faixas. Destaque para Childhood's End em que foi a última faixa em que
ele fez a parte das letras, só voltando a atuar nessa parte criativa
novamente 15 anos depois em Momentary Lapse of Reason. Outro destaque do
álbum é Wot's Uh the Deal, uma faixa acústica que nunca foi tocada ao
vivo pela banda, contudo, David Gilmour incluiu na sua turnê solo de
2006 e, por consequência, entrou no DVd ao vivo Gilmour's 2007. Obscured
by Clouds é um álbum bom e, além disso, serve de um enorme presságio
para o seu maior trabalho The Dark Side of the Moon que viria no ano
seguinte.
Até 1984, o Pink Floyd lança uma sequência de álbuns
épicos que marcam história e viram referências para futuras bandas, além
de se tornarem itens obrigatórios em qualquer coletânea baseada em
rock. Na ordem de lançamento, a banda produziu The Dark Side of the
Moon, Wish You Were Here, Animals, The Wall e The Final Cut. Apesar da
grandiosidade dos trabalhos e de uma ainda existência participação de
Gilmour na criação, o protagonismo de Roger Walters ia se alavancando
cada vez mais. E, falar sobre o trabalho do Roger numa homenagem ao
David soa meio estranho. Portanto, neste momento, prefiro pular essa
fase para posteriormente (quem sabe?) dar uma devida e aprofundada
atenção a esses álbuns.
Durante essa fase, Gilmour lançou dois
álbuns solos. O primeiro em 78, entre os álbuns Animals e The Wall,
levava seu nome no título. O trabalho teve uma boa receptividade de
público, alcançando 29º lugar no Billboard 200 e 17º no Reino Unido. A
faixa que ele deu destaque lançando como single foi um cover de uma
banda chamada Uniorn. Originalmente lançada como No Way Out of Here,
Gilmour gravou com o nome de There's No Way Out of Here. Duas faixas
também merecem comentário, So far Away e Short and Sweet, pois são
músicas que estavam sendo esboçadas para o The Wall. Tanto que Gilmour e
Roger apontam traços de So Far Away em Comfortably Numb.
Seu
segundo álbum solo foi em 84 com o nome de About Face. Com um resultado
um pouco inferior ao anterior, About Face recebeu um disco de ouro nos
EUA. Dos dois singles lançados, apenas um teve "resposta" do público que
foi Blue Light. Nessa época, Gilmour e o Pink Floyd estavam trabalhando
para o álbum The Final Cut. Gilmour tinha ideias, mas Waters não tinha
tempo e não esperou pelo parceiro. The Final Cut foi lançado e algumas
das ideias de Gilmour foram aproveitadas para o álbum solo. Hoje, com
mais calma, Gilmour não chega a desgostar do trabalho, mas considera que
ele tem uma vibe muito anos 80. Fato esse que foge muito da predileção
dele.
Nesse mesmo período, Waters sai da banda e Gilmour assume o
Pink Floyd em definitivo. Tanto que um anos depois, a banda lança A
Momentary Lapse of Reason, um álbum todo escrito por David. Nota-se
claramente um resgate a som antigo do Pink Floyd. Enquanto Roger estava à
frente da parte criativa nos álbuns anteriores, as letras eram as
protagonistas das faixas. Agora, apenas com Gilmour, as letras ficam em
segundo plano, para dar brilho à sonoridade. O álbum segue o sucesso dos
anteriores, chegando ao 3º lugar da Billboard 200 e também 3º lugar no
Reino Unido, vendendo quase 10 milhões de cópias no mundo. Lembrando que
nessa mesma época, o álbum disputava as paradas com nada menos que Bad
do Michael Jackson. Um detalhe é que, depois de anos, o Pink Floyd
voltou a ter um álbum que não fosse coletânea com seu nome na capa.
Se
no álbum A Momentary Lapse of Reason, Rogers Waters fazia pouco caso da
capacidade de Gilmour em assumir a frente do Pink Floyd e dos números,
em 94 a coisa mudou. Lançado o álbum The Division Bell, ele alcançou o
topo das paradas de mais de 20 países e recebendo mais de 20 álbuns de
platina pelo mundo. A ideia do álbum, segundo Gilmour, era um álbum que
falasse que a comunicação era a solução. Para ele, a conversa resolve
qualquer coisa. As letras evoluíram e a musicalidade permaneceu no
padrão Gilmour de sempre. A turnê do álbum gerou o clássico registro
Pulse que inovou na época com seu palco moderno e um case que piscava
consumindo as pilhas dos fãs.
The Division Bell foi o último álbum
de inéditas da banda e, depois dele, Gilmour seguiu com a carreira solo
na virada do século entre álbuns de estúdio e ao vivo. O destaque é
para o Live At Pompeii.
Por: Rafael Ferrara
Rafael Ferrara é locutor da Rádio Catedral do Rock (90,1 FM -
Petrópolis) onde apresenta o programa Arquivo do Rock e também apresenta
o Podcast Faixa a Faixa com o Jorge Felipe.
Instagram: @ferrararcr - E-mail: ferrarafm@yahoo.com.
Via: Whiplash.net
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