Uma
banda com mais de 30 anos de carreira só consegue se manter viva com
mudanças de integrantes, ainda mais quando possui um líder – o dono
mesmo - com punho de aço como Dave Mustaine. O que, também, acarreta na
passagem de grandes músicos e outros nem tanto, e mesmo quando os
músicos são bons, nem sempre o entrosamento entre eles, a tal química,
funciona. Dessa vez, contudo, a julgar pela apresentação exuberante
desta quarta (1/11), no Vivo Rio, o Megadeth está
com uma formação afiadíssima, digna dos tempos de ouro da banda, na
década de 1990. Impressionante como o brasileiro Kiko Loureiro entrou
bem no quarteto, e como o caçula Dirk Verbeuren (ex-Soilwork),
último a chegar, e para o lugar do monstro Chris Adler, perfazem um
combo redondinho e com a performance de palco indispensável para esse
tipo de música.
Um tipo de música elaborada, com palhetadas velozes, solos na
velocidade da luz e maratonas de guitarras umas após as outras, sem
parar mesmo. E que fica patente já em “Hangar 18”, avassaladora música
do álbum “Rust In Peace”, um dos mais emblemáticos para o thrash metal e
a música pesada de um modo geral. “Megadeth! Megadeth!”, grita logo de
cara o ótimo público que enche a casa, no ritmo da música, entre uma
evolução de guitarra e outra, o que aconteceria mais tarde, e já
tradicionalmente, na cadenciada, mas não menos pesada “Symphony of
Destruction”. Que Kiko é talentoso guitarrista todos sabem, mas, aqui, e
já no começo, parece com uma agressividade e espécie de gana de tocar
que muitas vezes não realçava tanto no Angra, a banda que o revelou. De cara, já no início, duela forte com Mustaine, o que seria uma tônica durante toda a noite.
Chama
a atenção, no meio do set list, a inclusão da dobradinha “Conquer or
Die!”/“Lying in State”, as duas do álbum mais recente da banda, o bom
“Dystopia”, lançado no ano passado, nem sempre incluídas – em São Paulo,
na véspera, por exemplo, não rolou. A primeira, instrumental, é terreno
fértil para Kiko Loureio debulhar a guitarra sem dó, e tem a primeira
entrada do mascote Vic Rattlehead, em traje de robocop. A segunda ainda
serve para que David Ellefson exiba toda a sua técnica em um vistoso
baixo de cinco cordas. Mesmo sem ser tão conhecidas assim, elas não
tiram o pique da apresentação. O disco, premiado com o Grammy de “Melhor
performance heavy metal”, fornece ainda outras duas músicas ao show. A
ótima e com refrão grudento “The Threat Is Real”, na qual é Mustaine o
capitão dos solos, e a própria “Dystopia”, numa interpretação correta e
cheia de mini duelos Mustaine x Loureiro.
O show é dividido em blocos, e só o primeiro, com quatro músicas,
dura mais de 20 minutos de uma traulitada acachapante. Na parte final, a
pedrada “Tornado Of Souls” e “Mechanix”, insuspeita irmã gêmea de “The
Four Horseman”, do Metallica
ainda com Mustaine, formam uma avalanche sonora que poucas vezes se vê,
mesmo em shows de bandas derivadas do thrash. Encorpado, o som, a essa
altura bem melhor equalizado, salienta as intrincadas evoluções de
guitarra e mais duelos – repita-se - de Mustaine com Kiko, um sempre
apostando corrida com o outro. Impressionante como Dave Mustaine, tido
como centralizador, cresce um bocado com os novos integrantes, incluindo
o descabelado Verbeuren, revirando os tambores como se fosse fácil
atuar em velocidade extrema o tempo todo.
O
único senão do show é que, embora intenso, é curto, com 90 minutos de
bola rolando. Já passou da hora de Mustaine preparar uma apresentação de
umas duas horas, mesmo que tenha intervalo, porque não é fácil tocar em
alta performance durante muito tempo, como outras bandas que lhe são
contemporâneas fazem. Aí poderia incluir músicas de discos mais recente
como “Endgame” e “Thirteen”, ou mesmo pinçar outras da antigas. Mas há
tempo para a incrivelmente pop e sem peso, mas ainda assim amada “A Tout
Le Monde”; a deliciosamente cadenciada e pesada ‘Symphony of
Destruction”, marco afetivo para os fãs; a assustadoramente pesada
“Sweating Bullets”; a presença de Rattlehead outra vez, em “Peace
Sells”; e, no arremate previsível, mas necessário, e com uma performance
alucinante, mesmo no final, “Holy Wars… The Punishment Due”. A música,
síntese da fase de ouro do grupo e uma das mais representativas do
thrash metal global, é como carimbo de qualidade batido com a certeza
dos sábios em mais uma página fantástica escrita pelo Megadeth.
Set list completo:
1- Hangar 18
2- The Threat Is Real
3- Wake Up Dead
4- In My Darkest Hour
5- Take No Prisoners
6- Conquer or Die!
7- Lying in State
8- Sweating Bullets
9- Trust
10- A Tout Le Monde
11- Tornado of Souls
12- Mechanix
13- Dystopia
14- Symphony of Destruction
15- Peace Sells
Bis
16- Holy Wars… The Punishment Due
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