Há exatos 20 anos, uma revista e um
programa de rádio independentes furaram esquemas oficiais e tocaram o
material em primeira mão. Foto: Reprodução/Internet.
Meus amigos, o que é a natureza. O tempo passa, o tempo voa e lá se vão 20 anos do álbum “Roots”, do Sepultura,
o de maior repercussão deles e o último com a chamada formação
clássica. Um disco ousado e bastante controverso por misturar ritmos
brasileiros como o imaculado - pero no mucho - heavy metal, mas que
consagrou mundo afora o jeito Sepultura de se fazer heavy metal, além de
influenciar novas gerações de bandas do gênero e não só no Brasil. E
isso sem falar no Soulfly e adjacências, que seguem, na maior parte do tempo, reproduzindo a, digamos assim, fórmula “Roots” para todo o sempre.
Mas não era isso que eu queria dizer. O que eu quero contar é que
quem lançou “Roots” no Brasil foi esteve que vos escreve, num verdadeiro
furo de reportagem que nem sempre é possível fazer quando se trabalha
no meio independente. Oficialmente, a data de lançamento de “Roots” é 20
de fevereiro, mas, há 20 anos, o mundo era diferente. Hoje, quando
chega a data oficial de um lançamento fonográfico, o material já vazou
há tempos, e todo mundo que se interessa por aquele artista já sabe do
que se trata. Em 1996, não. Por isso, quando foi ao ar a edição dia 23
de fevereiro do programa EP Vanguarda, na Rádio Rio de Janeiro AM, às 11
da matina, o Brasil ouvia, pela primeira vez todas – eu disse todas –
as faixas de “Roots” em primeira mão.
Isso porque, a época, eu representava a saudosa Revista Dynamite,
cuja sede era em São Paulo, no Rio, e recebi um advance do tal disco do
chefão André Cagni, o Pomba, que por sua vez recebera o material do
nosso correspondente em Londres, Celso Barbieri. Lá na Inglaterra, um
pré-lançamento do disco havia sido feito, cópias de um CD com as músicas
foi distribuído para alguns jornalistas e Barbieri mandou uma para cá.
Em princípio, ingênuo, não saquei a importância, mas ao contar para as
intrépidas irmãs Andrea e Adriana Cassas, diretoras do programa e
parceiras na época, elas logo viram que aquilo tinha que ir ao ar o mais
rápido possível.
Nem foi tão rápido assim, porque estávamos no período de Carnaval, e o
programa com o lançamento do disco ficou para a sexta depois do fim da
festa. Uma data que talvez não tivesse tanta audiência, né? Qual nada,
meus amigos. Ocorre que O Globo (não consegui o print do arquivo deles) e
o saudoso Jornal do Brasil ficaram sabendo, deram matérias e a coisa
quase não sai. Isso porque a gravadora da banda já tinha fechado um
acordo com a poderosa Rádio Cidade, que iria fazer o lançamento do álbum
justamente naquela sexta, só que às 18h, no badalado programa comandado
por Monika Venerábile, uma das locutoras reveladas na Fluminense FM,
minha grande referência no rock em todas as épocas. Se bobear, a Cidade
até antecipou o lançamento para o mesmo dia, para tentar diminuir o gap
entre uma coisa e outra.
Antes disso, a Rádio e a gravadora, ao tomarem conhecimento de que
seriam furados por uma nanica concorrência, trataram de tentar impedir
que o EP Vanguarda fosse ao ar. Recebi telefonemas que nos ameaçavam de
tudo, inclusive de denúncias a órgãos federais de controle, que poderiam
tirar o sinal da rádio do ar no horário do programa. Foi ficando legal,
né? Confesso que pensei algumas vezes em ao menos adiar o lançamento do
disco para a semana seguinte, mas as destemidas Andrea e Adriana
puxaram a minha orelha e fui convencido a fazer o que deveria ser feito.
E assim colocamos no ar, no dia 23 de fevereiro de 1996, em primeira
mão para o Brasil, todas as músicas do álbum “Roots”, do Sepultura. Com
comentários e análises deste que vos escreve, mesmo que não se soubesse
exatamente o título de algumas das músicas.
A história, contudo, tem um complemento que acredito nunca ter
contado. Após o programa, como de hábito, fomos para o QG das Cassas e
lá ficamos até a noite, para acompanhar o que seria o lançamento oficial
da Rádio Cidade. Obviamente, como é hábito em uma rádio que jamais
satisfez os entusiastas do rock em qualquer uma de suas fases, não foi
tocada a íntegra do disco, muito menos havia alguém para dar um contexto
jornalístico. Se bobear, esse lançamento só foi feito através de
permutas de idoneidade duvidosa. Mas isso é o de menos. O que eu quero
dizer é que, durante o programa, foi sorteada uma camisa importada já
com o logo de “Roots”, e o ganhador – e ainda tem mais essa – foi este
que vos escreve. Ou seja: furamos os caras e ainda levamos o brinde
deles como troféu. Roots bloody roots!
Portanto, se você que vai a tudo o que é show de rock encontrar um
sujeito bem apessoado com um camisão cinza de mangas compridas, com o
bolso esquerdo bordado com a logo de “Roots” nas cores da bandeira do
Brasil, saiba que esse cara sou eu. Sim, uso até hoje, em poucos dias do
ano de um Rio de Janeiro indiferente ao inverno. Saiba também que por
trás dessa farda há essa história que acabo de contar, e que, assim como
eu, essa camisa vem de longe. Muito longe.
Até a próxima, e long live rock’n’roll!!!
Fonte: Rock em Geral
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